Centro Educacional Reeducar

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

UM CONVITE AO CONVÍVIO COM AS DIFERENÇAS: A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO EM CLASSE REGULAR.

Ana Carla Lima Hoffman1

Ibrahim Georges Cecyn Moussa2

RESUMO

Quando se fala de inclusão dos alunos surdos em classe regular a primeira preocupação que surge é referente à tarefa de tentativa de mudança. É preciso ter a certeza de que é possível transformar a realidade em favor da qualidade de vida do deficiente auditivo. A inclusão dos surdos em escola com classe regular é complexa, com múltiplas causas e com conseqüências para as crianças e jovens tanto na idade escolar como na vida adulta, deixando marcas que jamais poderão ser apagadas. Neste contexto existe a escola que mesmo sendo vítima de diversos outros casos de inclusão, precisa fazer com que o ser humano se sinta parte importante da sociedade em que vive e que deve modificar-se para melhor, mesmo com seus limites dentro do processo ensino-aprendizagem. Abordar as dificuldades encontradas no processo de ensino-aprendizagem como uma das manifestações da dificuldade encontrada pelos alunos surdos na escola é abrir um caminho repleto de reflexões, pois as crianças que embora tenham acesso à escola, não obtêm o aprendizado. Assim é necessário que se reflita sobre as causas e conseqüências, que levam o educando com deficiência auditiva a apresentar baixa autoestima, atitudes passivas, transtornos emocionais, problemas psicossomáticos, depressão, ansiedade, somando a isso, a perda de interesse pelas questões relativas aos estudos, o qual pode desencadear uma situação de fracasso escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Inclusão; Surdos; Escolas; Crianças; Professores.

PROBLEMATIZAÇÕES INICIAIS

A inclusão do aluno surdo em classe regular representa um problema para a escola, já que a mesma não tem preparo para atendimento e aceitação deste educando.

Há vários anos tem se falado muito em inclusão dos alunos surdos em classe regular. Inúmeras reportagens são realizadas mostrando caso de pais com crianças portadores de deficiência auditiva que buscam as escolas para que possam dar a seus filhos a oportunidade de socialização e aprendizagem juntamente com crianças ditas normais, porém nesse contexto depara-se com inúmeros obstáculos, os quais parecem ser muito difíceis de serem superados.

A inclusão dos deficientes auditivos na escola regular vem sendo abordado a partir de diferentes perspectivas, dentre elas os direitos da pessoa com deficiência e o exercício da cidadania, a exposição à língua de sinais ou ao português, todavia ainda há pouca discussão a inclusão por parte dos professores envolvidos neste processo, onde se percebe que o termo inclusão muitas vezes ainda é confundido com integração.

Segundo definição do dicionário Aurélio, inclusão é o ato de incluir, de compreender (entender alguém, aceitá-lo como é), abranger (conter em si, mas também, aprender, perceber, entender, alcançar, atingir).

O ser humano vive em constante processo de aprendizagem, e o papel da escola é ensinar para a vida, o processo ensino-aprendizagem permite tanto ao educador quanto ao educando trocar experiências, considerando que a escola é o melhor ambiente para as pessoas projetarem-se para futuro.

Para que a inclusão escolar seja real, o professor da classe regular deve estar sensibilizado e capacitado (tanto psicológica quanto intelectualmente) para “mudar sua forma de ensinar e adaptar o que vai ensinar” para atender às necessidades de todos os alunos, inclusive de alguns que tenham maiores dificuldades.

Os cursos ou programas de formação e capacitação docente ao mesmo tempo em precisam dar condições efetivas para que o professor trabalhe de imediato com seus alunos, não pode ser uma capacitação voltada apenas para questões pontuais (tipo receita-de-bolo) e sim proporcionar aprofundamento teórico-metodológico que lhe permita se transformar em um professor que possa refletir e re-significar sua pratica pedagógica para atender à diversidade.

Para que possa se transformar o currículo tradicional em um “currículo inclusivo” faz-se necessário se repensar a prática pedagógica dos professores em geral. A mudança de paradigma que a inclusão traz em relação ao modelo de integração é em vez do aluno com deficiência se adaptar ao sistema, a escola regular como um todo incluindo, sobretudo, os professores – principais atores desse processo – tem que se transformar

1.0 Aspectos Históricos dos surdos

A história dos surdos registra que, como grupo, possui uma língua, uma identidade e uma cultura. Carlos Skliar (1998, p.29) afirma que os estudos Surdos em educação podem ser pensados como um território de investigação educacional e de proposições políticas que através de um conjunto de concepções lingüísticas, culturais, comunitárias e de identidades, definem uma aproximação com o conhecimento e com os discursos sobre a surdez e sobre o mundo dos surdos.

No passado os surdos eram considerados incapazes de serem ensinados, por estes motivos não freqüentavam escolas, sendo que as pessoas surdas e principalmente as que não falavam eram excluídas da sociedade, chegando a serem “proibidas” de casar, de possuir ou herdar bens e viver com as demais pessoas ditas normais, ficando desta forma com todos seus direitos e sua sobrevivência comprometidos.

Dentre alguns registros sobre a história dos surdos afirma-se que no final do século, não havia escola especializada para surdos e as pessoas ouvintes tentavam ensiná-lo da melhor forma.

Nos séculos seguintes alguns professores dedicaram-se a educação de surdos, podendo ser destacados nomes como: Ivan Pablo Bonet (Espanha) e Ovide Decroly (Bélgica), entre outros tantos importantes;

Esses professores divergiam quanto ao método mais indicado para ser adotado para a educação dos surdos, uns acreditavam que o ensino deveria priorizar a língua falada e outros utilizavam a língua de sinais, que já era conhecida pelos alunos, associado à língua falada.

Em 1857, o professor Francês Hernest Huet, que inclusive era surdo veio ao Brasil convidado pelo D. Pedro II para fundar a primeira escola para meninos surdos de nosso país: IMPERIAL INSTITUTO DE SURDOS E MUDOS, hoje INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE SURDOS, que é mantido pelo governo federal, que atende crianças, jovens e adultos surdos.

No século XX aumentou o número de escolas para surdos no mundo todo.

No Brasil, as secretarias Estaduais e Municipais de Educação passaram a coordenar o ensino de crianças com necessidades especiais e surgiram as salas de recursos e classes especiais para os surdos;

Como a organização das minorias no âmbito mundial, por terem garantido seus direitos de cidadãos, as pessoas portadoras de necessidades especiais passaram a apresentar reivindicações que, no caso dos surdos, são: o respeito a língua de sinais, a um ensino de qualidade, acesso aos meios de comunicação (legendas e uso do TDD), serviços de intérpretes entre outras.

Do ponto de vista educacional, a surdez refere-se à incapacidade de aprender a linguagem por via auditiva.

A partir da Lei 10436, o governo brasileiro reconhece a LIBRAS, como língua, e os surdos tem o direito que nas instituições educacionais, as aulas sejam ministradas em LIBRAS, pelo menos com a presença de um intérprete, pois a surdez não interfere no desenvolvimento cognitivo.

O atual contexto pode ser caracterizado por transformações desenvolvidas historicamente em diversos aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais, aos quais estão diretamente ligados aos avanços tecnológicos. Este momento contextual, marcados por constantes mudanças, demanda da educação de um modo geral uma aproximação da realidade, exigindo assim, da escola novas formas de pensar e agir frente às necessidades, exigências e potencialidades traçadas por tais avanços.

Dentre as inúmeras abordagens teóricas no campo educacional pode se destacar a visão comportamentalista como uma das abordagens que melhor explica a aquisição da linguagem em crianças ouvintes, contribuindo assim diretamente para a compreensão desse processo em crianças surdas, sendo a maior preocupação desta abordagem teórica frente ao deficiente auditivo é desvendar como a criança surda deve ser ensinada a falar.

É importante a escola promover um espaço para que os professores de demais profissionais que lá atuam possam dialogar trocar experiências e desenvolver novos métodos de ensino e enfrentamento das dificuldades vividas em sala de aula, pois as questões com a inclusão dos surdos em classe regular na escola são complexas demais para serem trabalhadas isoladamente.

Pode-se também ressaltar o conceito de Escola Inclusiva conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial MEC.

[…] implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogenias. A escola capacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive, para os educandos com necessidades especiais.[....] (Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial MEC/SEESP, 1998),

Ou seja, a Educação Especial já não é mais concebida como um sistema educacional paralelo ou segregado, mas como um conjunto de medidas que a escola regular põe ao serviço de uma resposta adaptada à diversidade dos alunos.

Neste contexto, a instituição escolar passa a ser alvo de questionamentos e de conflitos, provavelmente, por expor a diversidade e o compartilhamento de interesses, contradições, expectativas e identidades. Muitas são as ansiedades que movimentam as transformações em busca do que se julga ser o ideal, correspondendo às necessidades específicas de todos.

1.2 A Inclusão do Aluno Surdo em Classe Regular

A inclusão do deficiente auditivo nas escolas é uma realidade inegável, tendo a sociedade que organizar-se de modo a procurar alternativas para atender esta deficiência sendo que a escola de igual forma terá que ajustar. As famílias muitas vezes destituem-se da sua função educativa, delegando esta à escola esta responsabilidade, por vergonha ou receio de possuir um familiar com esse tipo de necessidade.

Incluir os surdos nas escolas regulares não é uma problemática nova, todavia tem assumido proporções de tal maneira que os educandários por vezes não têm opção, pois seus profissionais não estão preparados.

A questão a descobrir é onde estaria a raiz do problema?

É preciso incluir sem excluir não sendo possível atender uma criança portadora de deficiência auditiva ignorando suas características, nem tão pouco tratá-la diferente dos demais colegas. É preciso perceber que ao tratar o incluso como se não tivesse deficiência, seria ignorar características próprias. A deficiência auditiva existe e é preciso levá-la em consideração. Neste sentido é importante não subestimar as possibilidades, nem as dificuldades. As pessoas com deficiência têm o direito, podem e querem tomar suas próprias decisões e assumir a responsabilidades por suas escolhas.

Ter uma deficiência, seja ela qual for não faz com que uma pessoa seja melhor ou pior que uma pessoa que não possua nenhuma deficiência ou que ela não possua potencial de aprender algo, é provável que esta pessoa apresente certas dificuldades para o desenvolvimento de algumas habilidades, entretanto poderá apresentar outras tantas facilidades.

A escola enquanto espaço vivo, prazeroso e solidário, deve ter como objetivo fundamental assegurar a formação dos que participam do processo de educação inclusiva.

A inclusão dos surdos é vivenciada pelos jovens nas escolas, tornando-se uma realidade inegável e contínua sendo difundida no contexto educacional, perante isso se pretende fazer uma breve abordagem sobre a inclusão dos surdos e como tal problema vem sendo trabalhado dentro dos educandários, trazendo uma reflexão do papel do educador e da família, com destaque para a história dos surdos, as principais causas da surdez, os diferentes tipos de surdez, a identidade surda.

O que se percebe é que a deficiência auditiva recebida nas escolas dificulta a aprendizagem do aluno deficiente auditivo levando a reflexão sobre questões referentes à educação e a inclusão dos surdos em classe regular, os desafios que aparecem frente a estes dois determinantes e suas influências no processo ensino-aprendizagem.

A inclusão não pode ser responsabilidade única da Educação Especial. Não é uma simples questão do professor de Educação Especial ditar ao professor da classe regular como trabalhar com esse aluno. Se não for desenvolvida uma dinâmica de trabalho integrado, estaremos criando um sistema especial dentro da escola regular, o que não é Educação Inclusiva.

Portanto a escola deve ser um espaço que promova a mudança, que leve adiante uma pedagogia de valor, que esteja voltada e preocupada com a qualidade de seus conteúdos, com a formação de seus professores, realizando uma educação que crie espaços para que as pessoas possam deleitar-se de um futuro melhor.

Os alunos devem ser trabalhados para compreender e aceitar os outros; a reconhecer as necessidades e competências dos colegas; a respeitar todas as pessoas; a construir uma sociedade mais solidária; a desenvolver atitudes de apoio mútuo; a criar e desenvolver laços de amizade; a preparar uma comunidade que apóia todos os seus membros; a diminuir a ansiedade diante das dificuldades, entre outras vantagens.

Toda criança ou adolescente, mesmo que apresente características muito diferentes da maioria, precisa conviver e se desenvolver com sua geração, sendo que o espaço privilegiado para que isto ocorra é a escola. Por isso o ensino fundamental é obrigatório (art.208, I, CF), e o especializado, apenas preferencial na rede regular (art.208, III, CF). (MANTOAN, 2008, p. 20).

Escola inclusiva não necessita de classes especiais. Ou melhor, todas as classes e todos os alunos são muito especiais para seu professor! Tem lugar para todos, não há exigências quanto a acesso, nem mecanismos de seleção ou discriminação de qualquer espécie. É o lugar onde cada aluno pensa, faz e cria, e não do que reproduz, anota e decora, pois cada um pode fazê-lo no seu ritmo, há seu tempo e a seu modo.

A legislação do Brasil prevê a integração do educando com necessidades especiais no sistema regular de ensino. Essa integração, no entanto deve ser um processo individual, sendo necessário para cada um dos casos estabelecer o momento que seja oportuno para que o educando comece a freqüentar a classe comum, com possibilidades de progresso.

A integração do aluno surdo em classe regular, assim como outras integrações, não acontece como um passe de mágica é uma conquista diária, feita através de muito estudo, trabalho e dedicação de todas as pessoas que estejam evolvidas neste processo.

A inclusão de alunos com necessidades especiais em classe regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando a flexibilização do currículo para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. (VALLE, 2003, p.46)

Para que se atinja progresso neste tipo de integração é importante a estimulação precoce da criança, que nasce ou se torna surda, mas um dos entraves é que nem todos os surdos são beneficiados com estes estímulos, sendo um dos muitos fatores a questão financeira.

Ao dar inicio ao processo de integração escolar do aluno surdo, a escola especial deve oferecer apoio ao educando em turno inverso ao da escola regular e ainda subsidiar o trabalho do professor em classe comum.

O aluno surdo deve freqüentar o sistema regular de ensino porque é um cidadão com os mesmos direitos que qualquer outro. A escola deve dedicar-se também a promover cursos de capacitação de professores, a propiciar estudos de pesquisa na área da surdez, linguagem, para que assim possam subsidiar o trabalho e respeitar as potencialidades dos surdos, objetivando a integração plena desses alunos.

É preciso também ter conhecimento e levar em consideração que a comunidade surda possui identidade, sendo elas:

Política: Carregam consigo a língua de sinais. Aceitam-se como surdos, sabem que são surdos e assumem um comportamento de pessoas surdas. Entram facilmente na política com identidade surda, onde impera a diferença: necessidade de intérpretes, de educação diferenciada, de língua de sinais, etc... A escrita obedece à estrutura da língua de sinais, pode igualar-se a língua escrita, com reservas.

Híbridas: Dependendo da idade em que a surdez chegou, conhecem a estrutura do português falado e o envio ou a captação da mensagem vez ou outra é na forma da língua oral.Assimilam um pouco mais que os outros surdos, tem dificuldade de entendê-la;

Flutuantes: Seguem a representação da identidade ouvinte. Não participam da comunidade surda, associações e lutas políticas. Desconhecem ou rejeitam a presença do intérprete de língua de sinais. Orgulham-se de saber falar "corretamente”.

Embaçadas: Os surdos não conseguem captar a representação da identidade ouvinte. Nem consegue compreender a fala. O surdo não tem condições de usar língua de sinais, não lhe foi ensinada nem teve contato com a mesma. São pessoas vistas como incapacitadas.

Outra questão que não se pode deixar de lado é em relação ao diferentes tipos de surdez, que são classificados em:

Surdez ligeira – perda auditiva de 20 a 40 db:

- A palavra é ouvida, contudo certos elementos fonéticos escapam ao indivíduo.

- A este tipo de surdez não provoca atrasos na aquisição da linguagem.

-Dificuldades em ouvir uma conversa normal.

Surdez média – perda auditiva 40 a 70 db:

- A palavra só é ouvida a uma intensidade muito forte.

- Dificuldades na aquisição da linguagem.

- Perturbação da articulação da palavra e da linguagem.

- Dificuldades em falar ao telefone.

- Processo compensador por leitura labial.

Surdez severa - perda auditiva 70 a 90 db:

- A palavra em tom normal não é percebida

- É necessário gritar para existir sensação auditiva.

- Perturbações diversas na voz e na fonética da palavra.

- Processo intenso de compensação de leitura labial.

Surdez profunda - perda superior a 90 db:

- Nenhuma sensação auditiva.

- Perturbações intensas na fala.

- Dificuldades intensas na aquisição da linguagem oral.

- Adquire facilmente Língua Gestual

De acordo com GONZÁLEZ (2007) que, trás alguns conceitos e dados históricos acerca da experiência em atendimentos educacionais especiais, alunos que necessitam de um atendimento especifico não podem ser considerados incapacitados, considerando que sua dificuldade relaciona-se mais com o meio social e cultural. Assim o autor define que pessoas que necessitam de um processo educacional especifico são aquelas que:

[...] apresentam algum tipo de deficiência física, psíquica ou sensorial ou que estão em risco social ou de desvantagem por fatores de origem social, econômico ou cultural que os impedem de acompanhar o ritmo normal do processo de ensino-aprendizagem. Por meio desses atendimentos especiais pretende-se conseguir o máximo desenvolvimento das possibilidades e capacidades desses alunos, respeitando as diferenças apresentadas ao longo desse processo. (GONZÁLEZ, 2007, p. 19)

Para tanto é necessário que o processo de inclusão venha quebrar barreiras do preconceito, especificamente sociais e culturais que compreendem as pessoas que necessitam de um processo de aprendizagem diferenciado.

Sendo assim, a aprendizagem se efetiva na interação com o outro, na troca de experiências e saberes.

[...] o tipo de escolarização vivenciado nas propostas pedagógicas desenvolvidas, o perfil do professor e o modo como lida com o conhecimento e com os alunos, o tipo de tratamento e expectativa depositada no estudante, as possibilidades de interações com os colegas, as experiências nos planos social, cultural, artístico e corporal promovidos ou impossibilidades pela instituição é um fator importante na definição da natureza do impacto sobre individuo. (REGO, 2002, p.74)

Os professores e demais profissionais que atuam junto ao aluno surdo na escola regular devem ser informados de que, embora ele possa não ter uma linguagem claramente expressa, poderá ter mais chances de integrar-se, se os profissionais, principalmente o professor da classe comum, estiverem atentos para os seguintes itens:

Aceitar o aluno surdo sem rejeição;

Ajudar o surdo a pensar, raciocinar, não lhe dando soluções prontas;

Não manifestar conduta de superproteção;

Tratar o aluno normalmente, como qualquer aluno, sem discriminação ou distinção;

Não ficar de costas para o aluno, ou de lado, quando estiver falando;

Preparar os colegas para recebê-lo naturalmente;

Ao falar, dirigir-se diretamente ao aluno surdo;

Falar com o aluno mais pausadamente;

Verificar se o aparelho de amplificação sonora individual está ligado;

Verificar se ele está atento. O surdo precisa "ler" nos lábios para entender;

Chamar sua atenção, através de um gesto convencional ou de um sinal;

Colocar o aluno nas primeiras cadeiras da fila central;

Utilizar todos os recursos que facilitem sua compreensão;

Utilizar a língua escrita, e se possível, a Língua Brasileira de Sinais;

Estimular o aluno a se expressar oralmente, por escrito e por sinais;

Interrogar e pedir sua ajuda para que possa sentir-se um membro ativo e participante;

Incluir a família em todo o processo educativo;

Avaliar o aluno surdo pela mensagem-comunicação que passa;

Solicitar ajuda da escola especial, sempre que for necessário;

Procurar obter informações atualizadas sobre educação de surdos;

Utilizar se forem necessários, os serviços de intérpretes;

E, principalmente, acreditar de fato nas potencialidades do aluno, observando seu crescimento.

A deficiência existe e é preciso levá-la em consideração. Neste sentido torna-se de grande importância não subestimar as possibilidades, nem as dificuldades.

A integração do aluno surdo é um desafio que deve ser enfrentado com muita determinação, sendo que a decisão de encaminhar um aluno surdo para freqüentar uma classe de ensino regular, deve ser resultado de um criterioso processo de avaliação.

1.3. Inclusão: Um meio de construir escolas para todos.

As pessoas vivem suas vidas em um constante processo de aprendizagem, e o papel da escola é ensinar para a vida, o processo ensino-aprendizagem permite tanto ao educador quanto ao educando trocar experiências, ocasionando assim um constante aprendizado, considerando que a escola o melhor ambiente para as pessoas projetarem seu futuro.

Portanto a escola deve ser um espaço que promova a mudança, que leve adiante uma pedagogia de valor, que esteja voltada e preocupada com a qualidade de seus conteúdos, com a formação de seus professores, realizando uma educação que crie espaços para que as pessoas possam deleitar-se de um futuro melhor.

O papel do educandário é acompanhar esta dinâmica, entendendo o seu fazer diário, refletindo e avaliando constantemente sua prática pedagógica, essas ações estão presentes no cotidiano da escola, tendo como principal objetivo que o aluno compreenda o mundo em que vive, conquiste a autonomia, desenvolva a autoestima e o equilíbrio pessoal, crie vínculos para uma interação social, reconheça o outro respeitando as diversidades culturais, éticas, religiosas, sexuais e sociais, recusando qualquer forma de discriminação ou preconceito, mantenha o interesse pela aprendizagem, fortalecendo a capacidade de aprender a aprender.

O educandário deve proporcionar a todas as crianças o acesso às mais diferentes formas de cultura. Que alfabetize decentemente a criança para que ela se tornasse um cidadão participante. A escola ideal, pura, seria aquela que despertasse a curiosidade absoluta da criança, proporcionasse todas as experiências possíveis do conhecimento e discutisse francamente com seus alunos valores.

A escola inclusiva necessita de uma organização aprendente, tem de ser um sistema aberto, pensante e flexível. Sistema aberto sobre si mesmo, e aberto à comunidade em que se insere, o aluno é um eterno aprendiz, em constante interação com as oportunidades que o mundo oferece e ao longo da vida.

Neste contexto a escola inclusiva precisa atender a todos os alunos portadores de Necessidades Educacionais Especiais, mesmo àqueles que são considerados, preconceituosamente, sem solução. Uma escola direcionada para a comunidade, onde o processo educativo seja entendido como um processo também social, onde todas as crianças com necessidades especiais têm direito à escolarização e à aprendizagem de qualidade, que propicie ao professores de classe comum um suporte técnico; que perceba que as crianças podem aprender juntas, mesmo tendo objetivos e processos diferenciados; que leve os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças portadoras de necessidades especiais; que propicie um atendimento integrado para o professor da classe regular, onde as pessoas sejam vistas com um mesmo olhar. Mas não para serem homogeneizadas.

A filosofia da inclusão defende uma educação eficaz para todos, sustentada em que as escolas, enquanto comunidades educativas devem satisfazer as necessidades de todos, sejam quais forem as suas características pessoais, psicológicas ou sociais.

Olhadas com um mesmo olhar de amor, de afeto, de valorização e respeito, para serem reconhecidas no seu valor individual e com suas diferenças. As diferenças que falo aqui não são apenas das pessoas com necessidades especiais, mas também diferenças étnicas, culturais, sociais, econômicas, religiosas, e o que mais se possa imaginar, de todas as pessoas. Uma escola que acolha e valorize essas diferenças, e que saiba aproveitá-las na produção e reconstrução do conhecimento.

Matricular simplesmente uma criança com deficiência em uma classe comum, da escola comum, sem dúvida, é um passo importante na direção certa; mas isto não é Educação Inclusiva. Educação Inclusiva pressupõe que todas as crianças tenham a mesma oportunidade de acesso, de permanência e de aproveitamento na escola, independentemente de qualquer característica peculiar que apresentem ou não. Pensa-se em uma escola que leve isso a efeito, mas para que isto ocorra, é fundamental que as crianças possuidoras de diversidade biológica com impedimentos tenham o apoio de que precisam, isto é, acesso físico, equipamentos para locomoção, comunicação ou outros tipo de suporte. Mas o mais importante de tudo, é que a prática da Educação Inclusiva pressupõe que o professor, a família e a comunidade escolar estejam convencidos de que o objetivo dessa Educação é garantir a todos os alunos, com ou sem impedimentos, a participação ativa em todas as atividades na escola e na comunidade, e também que cada aluno é diferente no seu estilo e ritmo de aprendizagem, e essa diferença é respeitada numa classe inclusiva.

A escola deve ser um lugar onde se entendesse que ser diferente não é ruim. Cada um tem seu valor como é todos têm potencial, onde os alunos com impedimentos não sejam encarados como problemas, por que, de fato, não o são; onde se entende esses alunos como pessoas que apresentam desafios à capacidade dos professores e das escolas para oferecer uma educação para todos, respeitando as necessidades de cada um. Esta escola deve flexibilizar formas de avaliação, tornando-as um estímulo às conquistas dos alunos, tornar conteúdos e atividades de aprendizagem acessíveis a todos os alunos, estimular a aprendizagem cooperativa, inovar nas metodologias, enfim, acolher as pessoas com muito carinho, paciência e compreensão.

Todos os alunos, independentemente da presença ou não de “deficiência”, aprendem: a compreender e aceitar os outros; a reconhecer as necessidades e competências dos colegas; a respeitar todas as pessoas; a construir uma sociedade mais solidária; a desenvolver atitudes de apoio mútuo; a criar e desenvolver laços de amizade; a preparar uma comunidade que apóia todos os seus membros; a diminuir a ansiedade diante das dificuldades, entre outras vantagens.

Escola Inclusiva não existem classes especiais. Ou melhor, todas as classes e todos os alunos são muito especiais para seu professor! Tem lugar para todos, não há exigências quanto a acesso, nem mecanismos de seleção ou discriminação de qualquer espécie. É o lugar onde cada aluno pensa, faz e cria, e não do que reproduz, anota e decora, pois cada um pode fazê-lo no seu ritmo e a seu modo.

1.4. Inclusão, o que podemos fazer?

Nos dias de hoje, a inclusão se constituiu num grande desafio para professores, escola e a sociedade no geral.

Frente a isso se faz necessário considerar a educação como um ponto estratégico para a transformação, pois a sociedade urge a necessidade de uma educação com qualidade, que contribua para a formação, combatendo o preconceito e a discriminação.

Incluir uma “criança especial” na escola regular significa proporcionar a todos os alunos o aprendizado de conviver com a diversidade, sem anulá-la.

A inclusão traz a idéia de igualdade de direitos, principalmente o respeito às diferenças, ao afirmar que independente das necessidades educacionais especiais todas as crianças tem o direito de freqüentar uma escola regular e aprender.

O desafio é grande quando se fala em educação inclusiva, e o professor como mediador deste processo deve estar consciente sobre suas responsabilidades, ser educador é um compromisso sério e muito importante, é necessário doar-se a esse comprometimento, pois a educação é um meio onde podemos promover mudanças na sociedade.

A escola inclusiva deve fornecer subsídios, apoio para capacitar seus profissionais, pois a educação inclusiva é muito complexa, sendo que, a sala de aula deve ser vista como o espaço que possibilita e sustenta o sonho, o desejo, a esperança e a ética, que cria e desenvolve o pensar e que o responsável por esta é o educador.

Nesse contexto a autora faz-se entender que é necessário ter uma equipe de professores e funcionários preparados para lidar com situações inusitadas.

A expectativa do educador não pode ser de que a criança com impedimentos chegue a apresentar comportamentos iguais das crianças tidas como “normais”, seu trabalho vai, no entanto, no sentido de apoiar esta criança para que ela desenvolva formas de ação que englobem campos comuns de significado com outras crianças.

A educação inclusiva tem como maior objetivo, e talvez, sua maior barreira também, a de, além de promover a integração, proporcionar a todos, uma educação de qualidade.

A inclusão implica em uma transformação considerável no espaço escolar. Implica quebrar e vencer paradigmas, buscar atender a diversidade humana com a ajuda de recursos materiais, humanos e financeiros.

O importante, no processo inclusivo é perceber que a diversidade não é o problema, pelo contrário, é perceber que é uma oportunidade de enriquecimento individual, social e de ensino-aprendizagem.

Nesse contexto a escola deve ser o espaço de todos e para todos, espaço que atenda e entenda a diversidade humana, visando à inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na busca de superar seus próprios limites, assim, a escola e a sociedade poderão descobrir suas potencialidades, tornando a educação inclusiva promotora no desenvolvimento humano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atual contexto pode ser caracterizado por radicais transformações desenvolvidas históricamente em diversos aspectos-políticos, sociais, econômicos, culturais, as quais estão diretamente ligadas aos avanços científicos e tecnológicos. Este momento contextual no qual vivemos, marcado por constantes mudanças, onde a tecnologia tem crescente avanço, demanda da educação, de um modo geral, uma maior aproximação da realidade, exigindo assim, da escola novas formas de pensar e de agir frente às necessidades, exigências e potencialidades traçadas por tais avanços e mudanças. O papel da escola seria o de companhar esta dinâmica, entendendo o seu fazer diário, refletindo e avaliando constantemente sua prática pedagógica. A tarefa da escola, ao incluir o diverso, é possibilitar apropriações de dimensões básicas do desenvolvimento da espécie humana, como o desenvolvimento da função simbólica, o desenvolvimento da oralidade, a utilização de formas do pensamento como a classificação, a generalização, a correspondência. É indispensável que os estabelecimentos de ensino eliminem barreiras arquitetônicas e adotem práticas de ensino adequado às diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que contemplem a diversidade, além de recursos de ensino e equipamentos especializados que atendam a todas as necessidades educacionais dos educandos, com ou sem deficiência, mas sem discriminações. Frente a isso a inclusão tem sido um tema bastante discutido. Crianças que antes eram excluídas da escola regular e colocadas em instituições para deficientes, agora têm o direito, garantido por lei, à educação em escola regular, esta freqüentada antes apenas por crianças tidas como “normais”. A concretização da inclusão exige do sistema escolar a superação de vários desafios tais como: novas didáticas, capacitação dos educadores, e os alunos e familiares, estes passando por uma formação voltada para o processo de inclusão, onde possam aceitar as diferenças para assim evitar a exclusão e o preconceito, que são dois fatores que ainda precisam ser superados. Se pararmos para analisar nosso meio, verificamos que todos nós possuímos características diferentes, alguns se sobressaem em determinadas áreas e apresentam dificuldades em outras, e com o aluno especial não é diferente, e isso precisa ser respeitado e levado em conta na hora da aprendizagem e no processo inclusivo.

A inclusão não se limita apenas em colocar a criança com deficiência educacional dentro da escola, mas dar condições para que ela possa interagir, pois de nada adiantaria ter crianças incluídas na sala de aula e ao mesmo tempo excluídas no próprio ambiente escolar.É importante ressaltar que inclusão não significa tratar todos iguais, anular as diferenças, sendo que, a diversidade é um fator importantíssimo e extremamente enriquecedor para a aprendizagem num todo. Todo mundo ganha com a Inclusão de alunos com necessidades especiais na escola regular, os alunos com alguma “deficiência” (não uso esta palavra com sentido pejorativo) aprendem: melhor e mais rapidamente, pois encontram modelos positivos nos colegas; que podem contar com a ajuda e também podem ajudar os colegas; a lidar com suas dificuldades e a conviver com as demais crianças. Os alunos sem “deficiência”, os ditos “normais” aprendem: a lidar com as diferenças individuais; a respeitar os “limites” do outro; a partilhar processos de aprendizagem. Somente pode-se pensar em inclusão a partir do momento em que a sociedade e o ambiente escolar não mais fizerem distinção entre os seres humanos, pensando que a escola é aquela que educa de uma mesma forma todos os alunos, independente de serem ou não portadores de necessidades especiais, partindo do princípio de que todas as crianças podem aprender, respeitando e reconhecendo as diferenças.

REFERÊNCIAS

REGO, T. C. Configurações Sociais e Singularidades: O impacto da escola na constituição dos sujeitos. São Paulo. Moderna, 2002.

SOUZA, E. G. de. Surdez e Significado Social. São Paulo. Cordez, 1982.

VALLE, B. B. R. Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental. Apostila do IESDE. Curitiba, 2003.

SKLIAR, Carlos (org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Editora Mediação. Porto Alegre,1998.

GONZÁLEZ, Eugênio. Necessidades educacionais especificas. Porto Alegre, Artmed, 2007.

MANTOAN, Maria Teresa Égler. O desafio das diferenças nas escolas. Rio de Janeiro, Vozes. 2008.

1Acadêmica do curso de Pós-Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva Clinica do Centro Sul - Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-graduação.

2 Orientador do curso de Pós-Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva Clinica, do Centro Sul Brasileiro de Pesquisa Extensão e Pós-Graduação.

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto bem definida as explicações sobre a inclusão dos alunos surdos e o papel do AEE nesse processo.

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