Centro Educacional Reeducar

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

A CONCEPÇÃO DO EDUCADOR FRENTE À INCLUSÃO ESCOLAR


Micaéli Algayer[1]

Ibrahim Georges Cecyn Moussa [2]

RESUMO


O presente artigo traz uma reflexão quanto a concepção dos educadores frente ao processo inclusivo, no sentido de despertar e incentivar o desejo e a importância de se repensar as práticas, analisando-as e modificando-as conforme necessidades, para a concretização de uma prática mais significativa e eficaz.

Palavras – chaves: Inclusão; Práticas pedagógicas; Aprendizagem significativa.

INTRODUÇÃO

O desafio do educador atual é formar educandos com capacidade de coordenar, atualizar, desenvolver habilidades para gerar novos conhecimentos adaptados e atualizados, continuando a investigação com responsabilidade e cidadania. O homem é um conjunto muito complexo o qual envolve emoção, espírito, mente, corpo e força e estes devem ser trabalhados em conjunto e sintonia, pois é através do potencial humano que é possível superar as barreiras que a vida nos apresenta, sempre com uma fundamentação científica.

Assim, partindo então do princípio de que o ser humano é resultado das influências do meio, surge a necessidade de se repensar qual é o verdadeiro papel do educador numa prática inclusiva significativa.

Considerando e valorizando a diversidade humana e o direito garantido por lei a educação como um direito de todos, as escolas precisam adaptar-se ao novo modelo que

fundamenta a política de educação especial e que orienta os sistemas de ensino para garantir o acesso de todos, às escolas comuns da sua comunidade e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos.

O ambiente escolar não está adequando às novas normas e principalmente no que se refere a formação e a preparação dos professores para atuar na diversidade, é ai que se encontra o maior obstáculo no que se refere a aplicação de uma educação de qualidade e que atenda as necessidades dos educandos.

1. A ESCOLA E SEUS PARADIGMAS

Descrever o mundo, seus fenômenos, processos e caracterizar os métodos e estratégias de intervenção neste, sempre foi o principal papel da escola. Tudo sempre esteve muito “bem arrumadinho”, o professor ensina algo inquestionável, aluno aprende e reproduz exatamente como aprendeu e todos consideram que o processo de educar foi positivo.

Depois de estar convicto de que a missão de educar foi cumprida, inicia-se um período sombrio, recheado de incertezas, de novos paradigmas e impulsionado pela mudança cada vez mais freqüente e presente em nosso cotidiano escolar, o período da inclusão social, o qual instalou pânico entre os educadores diante das salas de aula.

Nem sempre é fácil lançar mão de um referencial teórico o qual embasava uma prática onde todos os participantes do processo eram compreendidos como um só. Difícil deixar de ser um bom professor por saber o conteúdo e passar a ser um bom educador por saber facilitar a aprendizagem e compreender que cada indivíduo possui limitações.

Como conjugar na prática o verbo incluir? Essas questões entre outras estão na base da construção do real papel do educador diante de um processo inclusivo escolar significativo, onde não se pode pensar apenas no aumento quantitativo do atendimento as pessoas com limitações mas sim na qualidade desse atendimento, a fim de que a inclusão não se transforme em exclusão.

“As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras. Neste conceito devem incluir se crianças com deficiências ou superdotadas, crianças de rua ou crianças que trabalham, crianças de população imigradas ou nômades, crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupo desfavorecidos ou marginais. Declaração da Salamanca, UNESCO, 1994.”

Partindo também do paradigma dos princípios da aprendizagem, onde pode se considerar que esta é fisiológica, impulsionada por sentimentos e emoções, é uma experiência social, sendo intensificada por novidades, desafios e obstáculos, pois o homem passa durante toda sua trajetória de vida tentando superar desafios sejam estes no âmbito particular ou profissional.

Surge o desafio do educador frente a inclusão. Este é desafiado a enfrentar o novo e ir em busca de complementos e embasamentos que auxiliem numa prática educativa a qual inclua a todos, independente das limitações encontradas em seu cotidiano escolar, e também a forma como pensam sobre a inclusão tem um papel importante, pois na maioria das vezes não está embasado em nenhuma teoria, apenas apresenta pontos de cada uma delas , buscando assim um embasamento teóricos que subsidie uma prática pedagógica a qual influencie na forma de conceber a inclusão.

Investigar qual a concepção do educador frente à inclusão escolar, diante da desconstrução de algumas atitudes enraizadas por paradigmas que precisam ser repensados, pois educador e educandos são personagens do mesmo processo.

Identificar entre os educadores as concepções pedagógicas que permeiam sua prática frente ao processo inclusivo escolar.

Evidenciar como uma prática educativa significativa pode contribuir para o desenvolvimento das competências exigidas pelo mundo moderno e globalizado na inclusão escolar.

Esses objetivos juntamente com serenidade, notoriedade e perspectivas são combustíveis para descoberta de uma nova realidade e a motivação é determinante de todo potencial humano, tanto cognitivo - afetivo – motor, como para autonomia social e humana.

2. A INCLUSÃO

O processo de inclusão sempre existiu, pois desde o rompimento da vida intra uterina já iniciamos a busca pela inserção nos grupos que vamos ou queremos interagir. A inclusão acontece na família, nos grupos religiosos, no mercado de trabalho, nos grupos de amigos, na escola e na sociedade em geral.

No mundo globalizado, cada vez mais moderno as formas de compreender os fenômenos sociais se tornaram cada vez mais avançadas, contudo ainda existem barreiras para as pessoas com limitações. Barreiras como o preconceito, a discriminação, a falta de acessibilidade, a falta de compreensão, conhecimento e informação.

As tecnologias estão presentes em, todas as partes, modernas, eficientes e neste contexto é fundamental ter acesso a informação, saber lidar, saber consumir com responsabilidade, manejar os instrumentos ligados a ela e reconhecer seu poder diante das mudanças, entretanto existe informações que precisam ser transmitidas, manejadas e consumidas com maior atenção que é o caso da educação inclusiva e do real papel do educador nesse processo.

A declaração da Salamanca é uma Resolução das Nações Unidas que trata dos princípios, política e prática em educação especial.

É considerada mundialmente um dos mais importantes documentos que visam a inclusão social juntamente com os Direitos da Criança (1988 ) e da Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990 ). Faz parte da tendência mundial que vem consolidando a educação inclusiva.

Resgatando o termo educação inclusiva é possível perceber que este é um processo em que se amplia a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata se de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondem a diversidade de alunos. É uma abordagem humanística democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos.

Para Windyz Ferreira, Coordenadora do Projeto Educar na Diversidade do MEC , e Consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), “a educação inclusiva é um movimento que desafia a escola a ser mais representativa da diversidade que existe na sociedade, tornando-se assim mais democrática e justa.” (2006: p.13)

No âmbito educacional propaga se que todas as pessoas são singulares em suas particularidades, independente de possuir ou não alguma necessidade educacional, cada um tem seu próprio ritmo de aprendizagem e assim são todos desiguais e a escola pode e deve beneficiar-se com essa diversidade e como já dizia Wygotsky, o processo de aprendizagem resulta da interação com outros sujeitos sociais , o que permite ao individuo construir sua representação simbólica , além de que o aluno com dificuldades de aprendizagens ou qual for sua limitação pode ser um estímulo para o professor desenvolver estratégias de ensino, rever conceitos e práticas .

Toda escola possui um projeto pedagógico que abrange a educação inclusiva e envolve o processo de reestruturação e adaptação, assegurando que todos os alunos tem acesso as oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela instituição. Entretanto nesse processo inclui os educadores como lideres do processo juntamente com os demais educandos e comunidade escolar em geral, além do desejo de formação e aperfeiçoamento profissional.

“Ensinar na perspectiva inclusiva, significa ressignificar, o papel do professor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas que são usuais no contexto excludente do nosso ensino , em todos os seus níveis. A inclusão escolar não cabe em um paradigma tradicional de educação e assim a preparação do professor requer design diferente das propostas existentes”. ( Mantoan, 2003, p.81”

A formação tem dupla perspectiva, uma de formação geral e mudanças de atitude e outra do conhecimento teórico e habilitação especifica. A prática pedagógica significativa não resulta apenas no domínio de técnicas e metodologias mas também na disponibilidade de serviços de apoio como suporte para os educadores, educandos e familiares.

A disponibilidade, as atitudes, postura e dedicação do educador contribuirão muito no sentido de abrir ou fechar possibilidades de conhecer, descobrir ou ignorar as potencialidades dos educandos. De acordo com o capitulo VI da Lei Nacional de Diretrizes e Bases da Educação ( Lei nº 9.394/96 ), é importante ressaltar que a formação dos educadores deve ser de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase de desenvolvimento do educando.

Esta mesma lei diz no capitulo V ( da Educação Especial ), que os alunos com necessidades especiais devem ser atendidos por professores com especialização adequada, de nível médio ou superior, para o atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para integração desses educandos nas classes comuns

3. O PAPEL DO EDUCADOR

O papel significativo será delineado pelo próprio exercício da ação pedagógica pois será primordial os tempos e espaços para formação , possibilidades de reflexão sobre sua prática assim como a desmistificação da deficiência, ou melhor, da limitação, e as dimensões da ação educativa como concretização na prática pedagógica.

Perante o educador percebe-se que a forma como este vê seu educando determina a sua interação com o mesmo, o seu desempenho bem como as suas possibilidades de aprendizagem, colaborarão para eficácia desse processo, porém esses conhecimentos são construídos na sua experiência escolar, e não é tão fácil quanto a absorção e aplicação dos conteúdos curriculares.

Batista (2001, p.28) então aponta que, “ a inclusão exige que o educador amplie as competências que já possui : observa, investiga, planeja de acordo com o aluno que possui, avalia continuamente seu trabalho, redimensiona o seu planejamento...”

Requer por parte dos educadores maior sensibilidade e pensamento crítico a respeito de sua prática tendo como um dos objetivos a autonomia intelectual, moral e social dos seus educandos, oferecendo condições de aprender na convivência com as diferenças, desenvolvendo um cidadão pleno.

O educador precisa ter capacidade de conviver com as diferenças superando os próprios preconceitos e estar sempre preparado para adaptar-se as novas situações que surgirão no interior da sala de aula.

Cada deficiência requer estratégias e materiais específicos e diversificados, porém, é preciso reconhecer que cada um aprende de uma forma e num ritmo próprio. Respeitar essa diversidade significa dar oportunidades para que todos aprendam os mesmos conteúdos, fazendo sempre as adaptações necessárias, o que não significa dar atividades mais fáceis a quem tem deficiência. Piaget (2006, p.12) já dizia que: “a nossa possibilidade de conhecer é a resposta que damos às solicitações do meio.”

Percebe-se que uma atitude receptiva, carinhosa e positiva contribui muito para o sucesso da educação inclusiva; o afeto pode ser facilitador na queda de barreiras e de preconceitos. Para Piaget in Seber (1997), todo processo de desenvolvimento inerente ao ser humano passa pela dimensão social e envolve cognição, afeto e moral. Porém não podemos confundir afetividade com ausência de limites, pois estabelecer limites contribui na formação dos educandos também, sejam estes com necessidades especiais ou não.

O processo inclusivo beneficia a todos uma vez que sadios sentimentos de respeito à diferença, de cooperação e de solidariedade podem se desenvolver , pois quanto maior a diversidade mais completa e mais rica se torna a figura formada pelo conjunto das partes que a compõem .

Segundo Freire, (1996):

“È de inclusão que se vive a vida. É assim que os homens aprendem, em comunhão. O homem se define pela capacidade e qualidade das trocas que estabelece e isso não seria diferente com os portadores de necessidades educacionais especiais.”

Frente a esse processo alguns conhecimentos serão construídos pelos educadores como os mecanismos funcionais de cognição das pessoas com deficiência, a consciência das suas próprias condições e conhecimentos pedagógicos e metacognitivo, o desenvolvimento da capacidade de auto regular e de tomar consciência das etapas do processo de ensino aprendizagem, a coerência entre a maneira de ser e ensinar entre teoria e prática, a capacidade de ministrar aulas sobre um mesmo conteúdo curricular a educandos que tem níveis diferentes de compreensão e de desempenho acadêmico, o respeito ao ritmo de aprendizagem bem como a utilização flexível dos instrumentos de avaliação do desempenho escolar, adequando-os as necessidades dos educandos. (Formação de educadores para educação inclusiva, 2008 MEC ).

“ A educação é um processo de construção humana cujos efeitos produzem mudanças na configuração do sujeito, fazendo-o de mais flexível, mais especializado, mais humano, mais configurado de acordo com o sistema de valores que lhe serve de referência .” ( Castillejo, J. L., 1987).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É através da educação que o homem desencadeia relações interpessoais com as outras pessoas, efetua interações com o meio ambiente e estabelece os seus valores, promovendo o desenvolvimento social e cultural que determina a história da humanidade. Assim é função da educação criar situações capazes de promover o crescimento qualitativo do homem, possibilitando também condições dignas de sobrevivência através da consciência de si mesmo, do seu ambiente social e das forças do universo, e juntamente com as instituições de ensino, as quais não deveriam ser simplesmente cenários de desenvolvimento da inteligência e da memória, pois as experiências ali presenciadas serão decisivas para a vida dos educandos , uma vez que constituem a personalidade do individuo e a aquisição do conhecimento surge aliada à tomada de consciência de si e de seu meio.Contudo, o passo fundamental é a consciência sobre a importância do papel do educador no processo inclusivo, pois quanto mais amadurecidas forem nossas consciências e seriamente repensadas, avaliadas e modificadas, menores serão nossas ilusões e maiores as perspectivas de ir traçando um horizonte mais promissor, para uma democratização e universalização do processo inclusivo significativo.

REFERÊNCIAS

TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. Petrópolis : Vozes, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

Ministério da Educação. Projeto Educar na Diversidade. DF: MEC, 2008

Ministério da educação . Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional . Brasília, MEC, 1996.

MENESTRINA, Tatiana Comiotto e Elói. Auto Realização e Qualidade Docente. Porto Alegre : Edições EST, 1996.

ALTAFINI, Magda (org.). Ensinar na Diversidade : um desafio de todos os educadores. São Leopoldo: Estação Gráfica, 2007.

Revista Nova Escola. Inclusão. Edição Especial N° 11: Editora Abril.

http://www.dhi.uem.br/jurandir/jurantirboaven1.htm (acesso :08/02/2011)

http:// www.jornaldaeducacao.inf.br/index (acesso: 08/02/2001)

ANEXOS (entrevista para educadores)

Projeto: A Concepção do Educador frente à Inclusão Escolar

1) Como você percebe a inclusão dos educandos na rede regular de ensino ?

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2) Como você concebe a aprendizagem e a construção do conhecimento dos educandos incluídos ?

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3) Na sua opinião qual é o papel do educador frente à inclusão escolar?

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Nome:_______________________________________________________________

Graduação: ___________________________________________________________

Data : _______________________________________________________________


[1]Acadêmica do curso de Pós-Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva, do Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação – Censupeg.

2 Orientador do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva, do Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação – Censupeg.


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