Centro Educacional Reeducar

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terça-feira, 13 de março de 2012

Por dentro do cérebro - Dr. Paulo Niemeyer Filho / Neurocirurgião

O que fazer para melhorar o cérebro ?

Resposta: Vc tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, reclamando de tudo com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter alegria. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.


PODER: Cabeça tem a ver com alma?


PN: Eu acredito que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo. Isto comprova que os sentimentos se originam no cérebro e não no coração.

PODER: O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?

PN: Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.

PODER: Você acha que a vida moderna atrapalha?

PN: Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas
morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.

PODER: Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?

PN: Todo exagero. Na bebida, nas drogas, na comida, no mau humor, nas reclamações da vida, nos sonhos, na arrogância, etc. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bom num corpo muito maltratado, e vice-versa.

PODER: Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?

PN: Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente que te faz
infeliz. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.

PODER: Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?
PN: Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas irão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você puder ir bem mentalmente, com saúde, e bom aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha.

PODER: Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas?

PN: O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai
funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.

Você acredita em Deus?
PN: Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda, quando acabamos de operar, vai até a família e diz: "Ele está salvo". Aí, a família olha pra você e diz:
"Graças a Deus!". Então, a gente acredita que não fomos apenas nós, que existe algo mais, independente de religião.

A entrevista completa esta no site:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/posts/2011/06/24/por-dentro-do cerebro-388256.asp



quinta-feira, 1 de março de 2012

TDAH: IDENTIFICAÇÃO, CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E INTERVENÇÕES


Adriana Aparecida de Almeida Marcolin[1]

Ibrahim Georges Cecyn Moussa [2]

RESUMO

Esta pesquisa propôs como tema de estudo os mecanismos existentes para a identificação do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, reconhecendo as causas, consequências e as propostas de intervenção, vinculando à necessidade de prover um atendimento que contemple as necessidades da pessoa comprometida. A pesquisa buscou desvendar os sujeitos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade através das características que os identificam, analisando os instrumentos utilizados no processo de identificação e a concepção de TDA/H, abordando os mitos e as crenças errôneas que cercam este tema. São apresentados no desenvolvimento deste trabalho, os procedimentos adotados para uma intervenção que beneficie a pessoa com o transtorno em foco. A lacuna existente entre a realidade vivida pelos indivíduos com déficit de atenção e hiperatividade e a realidade esperada pelas pessoas que convivem com estes, é significativa. Boa parte das pessoas expressa seu pensamento a respeito do assunto com certo descaso e agem consciente ou inconscientemente, com rejeição ao comportamento das pessoas comprometidas. A quantidade de vivências e experiências problemáticas vivenciadas pelos portadores de TDA/H, na família, na escola ou em qualquer outro lugar requer dos pesquisadores uma análise, para que as pessoas afetadas tenham encaminhamentos eficazes, frente às necessidades especiais e às diferenças.

Palavras-chave: TDA/H; Transtornos Secundários; Intervenções;Metodologias.

INTRODUÇÃO

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é um dos problemas significativos com que se defrontam famílias, educadores, médicos e especialistas de diferentes áreas. Muitas vezes, a doença é descrita como o transtorno da moda, sem que haja um conhecimento aprofundado a respeito do assunto. As queixas presentes costumam descrever mau comportamento e desempenho acadêmico, falta de atenção, desregramento e dificuldade de relacionamento social.

Os referenciais teóricos e as experiências ambientais norteiam e orientam a organização deste trabalho, apresentando em seu desenvolvimento os procedimentos de identificação da pessoa com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, reconhecendo as possíveis causas, consequências e algumas propostas de intervenção responsáveis, para que haja contribuições que diminuam as consequências negativas, tão rotineiras atualmente, na vida dos indivíduos afetados.

Os conflitos presentes na vida dos alunos com TDA/H são muitos e estarão sendo abordados no decorrer da pesquisa. Grande parte dos educadores estão despreparados para trabalhar com as pessoas que tem este transtorno, desconhecendo ou ignorando uma realidade educacional descrita pela diversidade de indivíduos em seus diferentes estilos, sem considerar que a democratização amplia as oportunidades educacionais e as especificidades são relevantes para a harmonização do processo educacional, tornando-se necessário a proposição de alternativas inovadoras frente às diferenças.

1. TDAH: IDENTIFICAÇÃO, CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E INTERVENÇÕES.

A atenção às necessidades de cada aluno forma uma estrutura básica para melhorar a qualidade da educação. Evidentemente para promover um atendimento eficaz e com objetivos voltados ao paradigma da inclusão, espera-se que redes de apoio integrem-se e promovam o atendimento de todas as pessoas, reconhecendo e atendendo adequadamente suas necessidades especiais. No entanto, quando educadores se deparam com típicos casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade a situação se modifica. Reforçam-se práticas excludentes e descomprometidas. Então se pergunta: afinal quem é a pessoa com o diagnóstico de TDA/H?

Este transtorno apresenta manifestações de condutas atípicas que problematizam o contexto social e a aprendizagem das pessoas afetadas. O diagnóstico considera algumas características e é realizado por profissional especialista. A questão apresentada parte da necessidade de conhecer os critérios utilizados para a identificação, a análise das causas e das consequências, além do esclarecimento sobre os procedimentos interventivos recomendados, especialmente no que se refere ao trabalho psicopedagógico

Os professores tendem a superestimar os sintomas de TDAH, principalmente quando há presença concomitante de outro transtorno disruptivo do comportamento. Com adolescentes, a utilidade das informações dos professores diminui significativamente, na medida em que o adolescente passa a ter vários professores (currículo por disciplinas) e cada professor permanece pouco tempo em cada turma, o que impede o conhecimento específico de cada aluno. Pelo exposto, o processo de avaliação diagnóstica envolve necessariamente a coleta de dados com os pais, com a criança e com a escola (ROHED et al, 2000).

A compreensão sobre as diversidades funcionais individuais é um desafio para especialistas e educadores, considerando que os sistemas funcionais e as funções executivas têm repercussão no aprendizado e comportamento como um todo.

Para ajuizar a normalidade ou não destas aquisições, o profissional apto vinculado à criança, necessariamente deverá conhecer como se processa este aprendizado, os fatores participantes, suas características evolutivas, e as chamadas variações da normalidade, que irão expressar as peculiaridades individuais. De posse desse conhecimento, terá plenas condições para determinar se está ou não havendo algum desvio de aprendizado (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2006)

É comum encontrar crianças mais ativas, mais exuberantes, menos atentas e mais impulsivas que os adultos. No entanto, quando essas especificidades chamam muito a atenção por representarem dificuldade no controle dos impulsos e os problemas de comportamento parecerem excessivos, recomenda-se uma investigação técnica por profissional capacitado, considerando a possibilidade de se tratar de um típico caso de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

Hoje, a maioria dos profissionais clínicos – médicos, psicólogos, psiquiatras e outros – acreditam que o TDAH consiste em três problemas primários na capacidade de um indivíduo controlar seu comportamento: dificuldades em manter sua atenção, controle ou inibição dos impulsos e da atividade excessiva. Outros profissionais adicionais: dificuldades para seguir regras e instruções e variabilidade extrema em suas respostas a situações (particularmente tarefas ligas ao trabalho). Acredito que todos esses sintomas estão associados a um déficit primário na inibição do comportamento, que é o símbolo do TDAH (BARKLEY, 2008).

No campo educacional, percebe-se que alguns educadores analisam alguns padrões e perfis de personalidade e comportamento que os levam a acreditar que se trata de um aluno com TDA/H.

O transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH, é um transtorno de desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com os períodos de atenção, com o controle do impulso e com o nível de atividade. Esses problemas são refletidos em prejuízos na vontade da criança ou em sua capacidade de controlar seu próprio comportamento relativo a passagem do tempo – em ter em mente futuros objetivos e conseqüências (BARKLEY, 2002)

As queixas dos professores são angustiantes. Há uma descrição caótica de comportamento e inabilidade em aprender, sem muitas vezes considerar que o aluno com TDA/H sofre muito, inclusive a rejeição do próprio educador e dos colegas.

Os professores queixam-se de que a criança interrompe não se senta quieta, não presta atenção, não termina seus trabalhos ou não escuta. Incapaz de planejar ou aderir a um curso de ação, a criança logo começa a decair em seu desempenho escolar. Talvez ainda mais doloroso, a criança é deixada para trás também socialmente (SMITH; STRICK, 2001)

Os indivíduos que apresentam problemas de comportamento, atenção, superatividade e que a falta de inibição atingem certo nível, além de uma incapacidade em seu desenvolvimento intelectual, devem ser avaliados por profissionais (neurologistas, psiquiatras, psicólogos, pediatra, psicopedagogos e educadores), que utilizam procedimentos de identificação para o diagnóstico do transtorno e seu manejo, a fim de que se possa oferecer uma atenção educacional especializada a estes alunos e fortalecer os pais em sua missão de assumir o controle, dando conta desse problema e fazendo com que seus filhos sejam encaminhados de maneira a assegurar a saúde de toda a família, individual e coletivamente.

Muitos pais percebem por si próprios, durante os anos pré-escolares, que seu filho parece se comportar de forma diferente de outras crianças. A hiperatividade, a falta de atenção e de controle das emoções, a agressividade, a excitabilidade e outros sintomas se tornam difíceis de serem ignorados. Às vezes, também é óbvio que os métodos da tentativa e erro usados para conduzir outras crianças com alterações de comportamento e temperamento não estão surtindo mais efeito (BARKLEY, 2002).

A definição de quem são as pessoas com TDA/H deve ser considerada por profissionais da saúde (médico ou psicólogo), embora seja comum uma equipe integrada de diferentes profissionais.

O TDAH é um dos transtornos mais bem estudados na medicina e os dados gerais sobre sua validade são muito mais convincentes que a maiorias dos transtornos mentais e até mesmo que muitas condições médicas (MATTOS, 2008).

Segundo Cool, Palácios e Marchesi (1995, p 163),

[...] a conduta impulsiva nas crianças hiperativas, constitui um dos aspectos relevantes do distúrbio, observando-se uma tendência à satisfação imediata de seus desejos e pouca tolerância à frustração.As interações com os iguais são reduzidas, dado que as próprias características da criança hiperativa (impulsividade, agressividade, etc.) tendem a provocar a rejeição dos outros. Carecem, portanto, do tipo de experiência que proporcionam estas interações, e que são de vital importância para o desenvolvimento social do indivíduo. O isolamento e rejeição social têm, além do mais, consequências negativas sobre a valorização de si mesma (COOL; PALACIOS; MARCHESI, 1995).

A compreensão sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, as prováveis causas e as consequências que o TDAH provoca, exige leitura e pesquisa, a fim de promover práticas consistentes para a superação dos maiores entraves apontados e para avanços interventivos promissores.

Os Tas (Transtornos de Aprendizagens) ocorrem de maneira concomitante entre si e com déficits em habilidades sociais, transtornos emocionais e transtornos de atenção. Desse modo, um estudante com Tas pode ter um problema em mais de uma área – uma condição chamada de co-morbidade (FLETCHER; LYONS; FUCHS et al, 2009).

Os transtornos de aprendizagens comumente acompanham os transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, sendo imprescindível a presença de profissional psicopedagogo para suprir as lacunas existentes, decorrentes dos atrasos de aprendizagem evidenciados.

Cerca de 25 a 30% das crianças e adolescentes com TDA/H apresentam problemas de aprendizagem secundários ou associados ao transtorno. Nesses casos, a intervenção psicopedagógica é fundamental. É importante ressaltar que a maioria dos adolescentes com o transtorno são diagnosticados tardiamente. Logo, já existem lacunas de aprendizagem que necessitam ser abordadas por meio de um trabalho de reconstrução das habilidades e conteúdos. Tal reconstrução deve ser feita por um profissional especializado (psicopedagogo ou fonoaudiólogo), pois o tratamento sintomatológico ou de reforço de conteúdo não resolve as seqüelas de aprendizagem que ficaram para trás. Em conjunto ou após o atendimento psicopedagógico, às vezes, é necessário um acompanhamento pedagógico, feito pelo professor, que ajude a prevenir novas lacunas de aprendizagem (RODHE; BENCZIK, 1999).

O TDA/H não-tratado pode fazer com que o indivíduo fique mais frustrado e obtenha menos sucesso na escola. Segundo BROWN (2007, p 153) “uma combinação de interação bioquímica e fatores psicológicos pode estar por trás das taxas elevadas de muitos transtornos de motivação e de sentido de alerta entre aqueles com TDAH”.

No âmbito das intervenções psicossociais, o primeiro passo deve ser educacional, através de informações claras e precisas à família a respeito do transtorno. Muitas vezes, é necessário um programa de treinamento para os pais, a fim de que aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que eles conheçam as melhores estratégias para o auxílio de seus filhos na organização e no planejamento das atividades. Por exemplo, essas crianças precisam de um ambiente silencioso, consistente e sem maiores estímulos visuais para estudarem (RODHE et al, 2000).

É importante que se conheça bem o TDAH, suas causas, as consequências na vida dos portadores e na de seus familiares, bem como as possibilidades de tratamento. Quanto mais se conhece certo problema, maiores são as chances de administrá-lo bem, portanto, é necessário pesquisa e envolvimento.

Intervenções no âmbito escolar também são importantes. As intervenções escolares devem ter como foco o desempenho escolar. Nesse sentido, idealmente, as professoras deveriam ser orientadas para a necessidade de uma sala de aula bem estruturada, com poucos alunos. Rotinas diárias consistentes e ambiente escolar previsível ajudam essas crianças a manterem o controle emocional. Estratégias de ensino ativo que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem são fundamentais. As tarefas propostas não devem ser demasiadamente longas e necessitam ser explicadas passo a passo. É importante que o aluno com TDAH receba o máximo possível de atendimento individualizado. Ele deve ser colocado na primeira fila da sala de aula, próximo à professora e longe da janela, ou seja, em local onde ele tenha menor probabilidade de distrair-se. Muitas vezes, as crianças com TDAH precisam de reforço de conteúdo em determinadas disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam lacunas no aprendizado no momento do diagnóstico, em função do TDAH. Outras vezes, é necessário um acompanhamento psicopedagógico centrado na forma do aprendizado, como, por exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e de atividades. O tratamento reeducativo psicomotor pode estar indicado para melhorar o controle do movimento (RODHE et al, 2000).

As recomendações dos especialistas mostram medidas interventivas eficazes, no entanto, muitas vezes contradizem com o quadro estabelecido nas escolas. As salas de aulas são lotadas de alunos, muitos desses apresentando necessidades especiais, o profissional devendo cumprir uma rotina diária de muito trabalho, muitas vezes em situação de stress e as escolas com projetos pedagógicos deficitários, desarticulados e descomprometidos com as especificidades de seus alunos.

As intervenções psicossociais também contribuem significativamente para a melhora do quadro de TDA/H nas crianças e nos adolescentes.

Em relação às intervenções psicossociais centradas na criança ou no adolescente, a psicoterapia individual de apoio ou de orientação analítica pode estar indicada para: a) abordagem das comorbidades (principalmente transtornos depressivos e de ansiedade); e b) a abordagem de sintomas que comumente acompanham o TDAH (baixa auto-estima, dificuldade de controle de impulsos e capacidades sociais pobres). A modalidade psicoterápica mais estudada e com maior evidência científica de eficácia para os sintomas centrais do transtorno (desatenção, hiperatividade, impulsividade), bem como para o manejo de sintomas comportamentais comumente associados (oposição, desafio, teimosia), é a cognitivo-comportamental, especialmente os tratamentos comportamentais. Entretanto, os resultados recentes do MTA (ensaio clínico multicêntrico, elegantemente desenhado, que acompanhou 579 crianças com TDAH por 14 meses divididas em quatro grupos: tratamento apenas medicamentoso, apenas psicoterápico comportamental com os crianças e orientação para os pais e professores, abordagem combinada e tratamento comunitário) demonstram claramente uma eficácia superior da medicação nos sintomas centrais do transtorno quando comparada à abordagem psicoterápica e ao tratamento comunitário. Entretanto, a abordagem combinada (medicação + abordagem psicoterápica comportamental com as crianças e orientação para os pais e professores) não resultou em eficácia maior nos sintomas centrais do transtorno quando comparada a abordagem apenas medicamentosa. A interpretação mais cautelosa dos dados sugere que o tratamento medicamentoso adequado é fundamental no manejo do transtorno (RODHE et al, 2000).

As intervenções pedagógicas, psicopedagógicas, psicoterapêuticas, clínicas e familiares são muito importantes, porém as intervenções psicofarmacológicas são significativamente relevantes no processo de estimulação neuro-cerebral, contribuindo significativamente para a regularização das funções comportamentais relacionadas aos sintomas do TDAH.

Em relação às intervenções psicofarmacológicas, serão discutidos apenas os aspectos mais recentes ou controversos. [...] No Brasil, o único estimulante encontrado no mercado é o metilfenidato. A dose terapêutica normalmente se situa entre 20 mg/dia e 60 mg/dia (0,3 mg/kg/dia a 1 mg/kg/dia). Como a meia-vida do metilfenidato é curta, geralmente utiliza-se o esquema de duas doses por dia, uma de manhã e outra ao meio dia. Cerca de 70% dos pacientes respondem adequadamente aos estimulantes e os toleram bem. Essas medicações parecem ser a primeira escolha nos casos de TDAH sem comorbidades e nos casos com comorbidade com transtornos disruptivos, depressivos, de ansiedade, da aprendizagem e retardo mental leve. A primeira indicação é de uso de estimulante e, se necessário, indica-se agregar um inibidor seletivo da recaptação de serotonina, como a fluoxetina (RODHE et al, 2000).

O acolhimento da criança comprometida em redes de apoio, em um clima de parcerias e co-responsabilidades evidencia a efetiva melhora do quadro de TDAH, desencadeando processos psicossociais e de aprendizagem esperados como padrão estabelecido socialmente.

O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é uma síndrome psiquiátrica de alta prevalência em crianças e adolescentes, apresentando critérios clínicos operacionais bem estabelecidos para o seu diagnóstico. Modernamente, a síndrome é subdividida em três tipos principais e apresenta uma alta taxa de comorbidades, em especial com outros transtornos disruptivos do comportamento. O processo de avaliação diagnóstica é abrangente, envolvendo necessariamente a coleta de dados com os pais, com a criança e com a escola. O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções psicossociais e psicofarmacológicas, sendo o metilfenidato a medicação com maior comprovação de eficácia neste transtorno (RODHE et al, 2000).

Mais importante que caracterizar os sujeitos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e analisar os instrumentos utilizados na identificação é compreender os mitos que acercam o assunto, assim como as necessidades apresentadas por esses indivíduos, contribuindo de maneira dinâmica, organizada e responsável para a promoção de uma intervenção benéfica e eficaz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é um fenômeno que está sendo acompanhado com críticas, por ser considerada a doença da moda, embora reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. As causas, consequências e propostas de intervenção foram apontadas no desenvolvimento deste trabalho, verificando-se à grande necessidade de uma atenção especial aos detentores desta doença. Após finalizar esta pesquisa, percebeu-se o quanto as informações sobre as características da pessoa com TDA/H poderão nortear e auxiliar na compreensão dos indivíduos afetados, para que se efetive o acolhimento e não o desprezo, a inclusão e não a exclusão e haja mais solicitude no atendimento às necessidades evidenciadas.Conclui-se que é preciso conscientizar as pessoas para que se promovam estratégias reparadoras, ao invés de punitivas, permitindo e dando condições para que indivíduos com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade se reorganizem internamente e, por conseguinte, aumentem a auto-estima, sejam valorizados e aceitos socialmente.

REFERÊNCIAS

BARKLEY, Russel A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Porto Alegre: Artmed, 2002. Reimpressão 2008.

BROWN, Thomas. Transtorno de Déficit de Atenção: A mente desfocada em crianças e adultos. Porto Alegre: Artmed Editora S.A. 2007. Reimpressão 2008.

COOL, César; PALACIOS, Jesús; MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento psicológico e educação; necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. v.3. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

FLETCHER, Jack M.; LYONS, G. Reid; FUCHS, Lynn et al. Transtornos de Aprendizagem: da identificação à intervenção. Porto Alegre: Artmed Editora S.A., 2009.

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: Perguntas e Respostas sobre o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade em Crianças, Adolescentes e Adultos. 8.ed. ver. e atual. São Paulo: Casa Leitura Médica, 2008.

RODHE, Luís Augusto P.; BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: o que é? Como ajudar? Porto Alegre: Artmed, 1999.

ROHDE, Luis Augusto; BARBOSA, Genário, Tramontina, Silzá e POLANCZYK, Guilherme. Transtorno de déficit de Atenção / hiperatividade. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2000, vol.22, suppl.2, pp 07-11. ISSN 1516-4446: 10.1590/S1516-44462000000600003doi.

ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar dos Santos. Transtornos da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006. Reimpressão 2007.

SMITH, Corine; STRICK, Lisa. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.


[1]Acadêmica do curso de Pós-Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva, do Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação – Censupeg.

2 Orientador do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva, do Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação – Censupeg.